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A entrada para a Jonker street, a principal rua da China Town
repleta de lojas e restaurantes que servem bolinhas de arroz
com diferentes recheios, um prato típico local. |
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Fachada de uma das muitas lojas de antiguidades de Jonker street.
Existem lojas com artigos da Tailência, China e Indonésia. |
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Algumas lojas são especializadas em chás, doces de manga ,
bolachas de coco e tares de ananás Baba Nyonya, uma receita
de um povo que descende de chineses que casaram com
mulheres malaias. |
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Os tuc-tuc de Malaca são assim, pirosinhos até dizer basta.
Uma hora de passeio custava apenas 4 euros. |
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Christ Church. Esta igreja holandesa é das imagens
mais divulgadas de Malaca. |
Senhor Rodrigues, traga-me mais uma
cerveja, por favor!” Esta seria uma frase banal no dia-a-dia de qualquer
esplanada em Portugal, Mas não o é, certamente, quando usada numa esplanada a
mais de dez mil quilómetros de distância. Estamos em Malaca, uma cidade no sul
da Malásia continental. E quinhentos anos depois da conquista desta cidade por
Afonso de Albuquerque, ainda há quem se exprima na língua de Camões.
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Podem fazer cruzeiros, apanhando o barco nas traseiras do
posto de turismo para ir até Kampung Morten ver a Villa Sentosa
com casas de 1920 de construção típica malaia. Eu fui a pé.
Mas o passeio de barco, de 45 min, custava 1.50 euro. |
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 vista do monte de São Paulo. |
Assim que comecei a fazer o “trabalho de
casa” para definir a rota a seguir na Malásia, sabia que Malaca seria um ponto de paragem obrigatória. Depois de 3 dias em Singapura,
dirigi-me de táxi (é barato) para a cidade malaia fronteiriça - Johor Bahru – onde aluguei um
Proton no aeroporto, um carro de marca nacional. Duas horas e meia mais tarde, de condução à esquerda (a Malásia foi ocupada pelos ingleses...). chegávamos a
Malaca ainda a tempo de almoçar. Depois de comer, fomos percorrer o pequeno
bairro de China Town, visitando algumas das suas lojas de antiguidades e de
artesanato e vendo as fachadas das várias casas, tão ricas em pormenores
arquitectónicos, como mostram as fotos. Deambulei pelas várias ruas adjacentes, enquanto passava
por templos chineses, templos hindus e mesquitas. Mas estava em pulgas para ver o que restava da fortaleza portuguesa e para visitar ao bairro dos portugueses, a cerca de 3 km do centro da cidade. Mas já lá vamos. Primeiro vou falar do único monumento português que sobrou do tempo de Afonso de Albuquerque.
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A Porta de Santiago é tudo o que resta da antiga fortaleza portuguesa.
Os ingleses espatifaram o resto. |
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A igreja de são Paulo, mandada construir por um capitão
português em 1590 e a estátua de S. Francisco Xavier
que ali esteve sepultado durante 9 meses. |
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Afonso de Albuquerque chegou a a esta
cidade em 1511, ávido por especiarias e pelo domínio de rotas comerciais.
Quinhentos anos depois, são poucos os vestígios da passagem dos
portugueses. Na base do monte de S. Paulo, a Porta de
Santiago sobrevive graças a Sir Stamford Raffles – fundador de Singapura – que
fez questão de não a deixar destruir (obrigada, Sir Raffles, onde quer que estejas!). Esta porta em ruinas é tudo o que resta
da antiga fortaleza – A Famosa – construída por Afonso de Albuquerque em 1512
e, mais tarde, destruida pelos britânicos, em 1807. No topo do monte,
encontra ainda uma igreja em ruínas, a igreja de S. Paulo, erguida em 1521. S. Franscisco
Xavier, fundador da Ordem Jesuíta que esteve aqui sepultado durante 9 meses, antes
do seu corpo ser trasladado para Goa, onde ainda hoje se encontra. No interior
do recinto existem várias pedras tumulares encostadas às paredes com inscrições
em inglês, holandês e português.
Mas que mais há para ver em Malaca que
remeta para os portugueses de outrora? Foi esta a pergunta que fui colocando aos vários locais com quem me fui cruzando ao longo da tarde. A resposta foi
unânime: o Museu Marítimo e o bairro português.
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A réplica do Flora del Mar onde funciona o Museu Marítimo |
O Museu Marítimo foi instalado numa
réplica de uma galeão português do séc. XVI – o Flora del Mar - que se afundou no
estreito de Malaca juntamente com um tesouro valioso. A exposição deste museu
relata a história do sultanato de Malaca desde o séc. XIV até à ocupação
britânica e apresenta alguns objectos antigos como mapas, armas e instrumentos
marítimos. Depois de ver o barco por fora, aseguimos finalmente para o bairro
português de Malaca, designado localmente por Ujong Pasir. Esta seria a chamada
“cereja em cima do bolo”, para terminar o dia em grande estilo.
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Fachada do Museu Português que fecha à segunda-feira. E em que dia é passei
neste local em Malaca? Numa segunda... |
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Ao fim de semana costuma haver festarola com ranchos folclóricos.
Que pena não ter apanhado este show. O que eu pagava para ver
asiáticos a dançar o vira! |
O bairro português é um bairro periférico onde vivem cerca de
dois mil descendentes de portugueses, predominantemente católicos e conhecidos
localmente como “Eurasians”. Será que
são parecidos connosco? Será que souberam preservar tradições ancestrais? E que
ligação terão com o Portugal dos nossos dias? A curiosidade era enorrme. Á medida que fazia o trajecto de cerca de 4 quilómetros entre o centro histórico de Malaca e o bairro português, observa a as feições das pessoas em busca de Ti Manéis e Ti Jaquinas. Rostos parecidos com os nossos. Nada.
De
repente, as ruas começaram a ter nomes de descobridores portugueses. E aqui e
acolá surgiam cartazes a anunciar festas com pessoas vestidas.. .de minhotas! Pois bem, acabava de chegar à Medan Portugis, a Praça
Portuguesa. Um espaço ao ar livre, com vários palcos onde, ao sábado à noite, é
costume haver música e danças inspiradas no folclore e nas festas tradicionais
portuguesas. Mas era segunda...
Olhando em redor, a arquitectura dos
edifícios da praça em nada remetia para a
traça portuguesa. Mas todos os restaurantes da praça exibiam letreiros a
anunciar a gastronomia lusa. Aproximei-me de um deles, o Restaurante Lisboa, e
perguntei ao empregado, um homem de tez escura com cerca de 60 anos, se de facto
serviam comida portuguesa, identificando a minha nacionalidade. Para meu
espanto, o senhor respondeu-me com um “sim”. A partir daí a conversa foi toda em português. Mais à
frente, junto ao mar, descobri uma fileira de 7 ou 8 restaurantes, todos com
esplanada e todos eles, supostamente, de comida
portuguesa. Servirão bacalhau? Migas? Caldeirada? Nada disso. Estes
restaurantes de português só têm mesmo o nome. A comida resume-se a peixe, lulas e
marisco grelhado ou marinado com lima e especiarias. Mas melhor do que a
refeição, é descobrir que a maior parte dos empregados fala português, ainda
que tenham feições asiáticas. “
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Os restaurantes portugueses ficam junto ao mar e servem comida
que de portuguesa não tem nada. Mas alguns empregados falam português, |
E vocês já visitaram Portugal?”, perguntei a alguns dos empregados do restaurante (uma simpatia!) e a outros amigos deles que se foram juntando à nossa volta para falar português com ... portugueses!!! “É muito longe e muito caro. Não conheço, mas gostava muito…”, respondiam com uma pronúncia estranha mas compreensível. Em casa, a família nunca deixou de ensinar a língua, passando-a de geração em geração, o que explica este “milagre” e a existência de apelidos tão familiares. “Senhor Rodrigues, mais um cerveja, por favor!” pedi eu já a terminar uma refeição deliciosa. “E pode trazer a conta, por favor”. Por sinal, uma conta simpática já que por uma pratada de lapas (scallop) divinalmente temperadas com ervas aromáticas e pó de amendoim, um peixe temperado com lima e acompanhado de arroz, legumes salteados e um litro de cerveja Tiger pagámos 20 euros. “Muito obrigada Senhor Rodrigues, foi um prazer”. Mesmo ali ao lado, no Lisbon Hotel (30 euros o quarto duplo com PA), um hotel com vista para o estreito de Malaca, tenho a certeza de que nessa noite adormeci com um sorriso nos lábios.