Caminhada até à praia da Ursa


Escócia? Irlanda? Não, é mesmo o Cabo da Roca.

Descobri há pouco tempo o prazer de fazer caminhadas. Sempre gostei de andar a pé. Se estiver distraída, a ver uma cidade ou à conversa, sou capaz de andar horas fio a bom passo. E se não fossem as minhas crias, com quem faço de questão de viajar bastante, faria muitas mais caminhadas. Mas neste caso, o passeio foi feito num dia de semana, em gesto de despedida a vários meses a trabalhar como freelancer. Alguns dias depois deste passeio, iria voltar aos horários destrambelhados da área em que trabalho.... O passeio durou cerca de três horas e foi feito a convite do meu professor de Yoga que costuma organizar passeios, alguns deles misturados com paragens para exercícios. Desta vez, não foi o caso. O objectivo era mostrar-me uma praia que já tinha visto em várias revistas,a Praia da Ursa. Uma praia lindíssima mas com um acesso tramado, impróprio para cardíacos....




Do lado direito, encostado às rochas, estava um homem em pelota a fazer
meditação. Às tantas levantou-se, fez o pino e foi de mãos no chão até a água
 com o "badalo" a balançar....

Lá em baixo, reinava uma paz absoluta.
Foi por este caminho de pedras que regressei lá acima.

Existem dois caminhos que vão dar à praia. Eu desci pelo mais difícil. A dificuldade era tal, que eu exigi, literalmente, ao J. que fosse à minha frente para, no caso de tropeçar, cair em cima dele. Dei por mim várias vezes a pensar "Onde é que o helicóptero que me vem buscar poderá parar?". Chegar lá abaixo foi um alívio e um deleite para a vista. E, felizmente, o caminho de regresso era bem mais fácil. Não é aconselhável para idosos nem para crianças, mas faz-se razoavelmente bem. Como será esta praia em pleno mês de Agosto? Tenho de lá ir para ver.




O adeus à Ilha do Príncipe


Praia Burra, coladinha à praia Caju e já bem perto da praia Banana
Ao fundo, um monte conhecido por "boné do jokey".



Uma espécie de papagaio típica da ilha do Príncipe. Este estava domesticado.
Sacerdote a treinar um discurso aos altos berros, na praia Évora, a  praia onde
os habitantes da ilha celebram o fim de ano.
Podia sim....podia ter ido ver tartarugas desovar, era a época delas.
Mas quem se levanta às 6 da manhã, às 23h00...está KO... E as tartarugas
podem aparecer ou não, entre as 23h00 e as 3h00 da manhã...
O restaurante da Mingas, mesmo ao pé do aeroporto, onde nos prepararam
um almoço a rigor, com direito a sopa, prato, sobremesa e café.
Um gesto comovente de uma das pessoas mais incríveis que conheci na ilha.
E a passarola que nos levou de volta. ao contrário dos presságios de toda (!)
a gente, apareceu a horas. Uff...

No dia de regressar a São Tomé, véspera de regressar a Portugal, levantámo-nos bem cedo, como de costume. Tomámos o pequeno-almoço na Juditinha, fomos à Praia Banana e depois almoçamos bem perto do aeroporto, no restaurante da Mingas (Domingas), uma mulher com uns cinquenta anos mas que parecia ter uns trinta e poucos. Conversámos algumas vezes com ela. Era uma simpatia, sempre muito prestável, e tinha uma história de vida muito triste, ao ponto de me deixar com o coração apertadinho e a lágrima no canto do olho. Não nos conseguimos despedir dela, mas fomos, por sugestão dela, almoçar a um dos seus estabelecimentos (tem dois) e serviram-nos com uns cuidados comoventes. E eu que andava a evitar saladas, comi a salada toda que me puseram no prato. Que se lixe, se ficasse doente, já estava a um dia de voltar para casa. Pagámos o almoço aos guias mais ao irmão gémeo de um deles, que se colou a nós assim que pôde, e a conta foram 16 euros, para 5 pessoas. O Isaías, o Sandino e o irmão ficaram connosco até o avião partir, às duas da tarde. E uma vez mais, repetiram "Se tiverem amigos que venham ao Príncípe passar férias, falem-lhes de nós. Podemos levá-los a passear". E é o que estou a fazer neste blog, na esperança de que alguém aproveite a dica. Passadas 3 semanas de regressar desta viagem, na noite de Natal, estavam a enviar-nos, a mim e à C.,  sms's de boas festas e de bom ano. Foram, seguramente, as mensagens que mais nos tocaram na noite de 25 de Dezembro.

Ilha do Príncipe: Sózinha na praia Macaco.





Os bungalows da praia Macaco



Água morna q.b., totalmente transparente.




Enquanto passeávamos com os nosso guias, falaram-nos deste local, a Praia Macaco, como sendo uma das praias mais bonitas da ilha do Príncipe, juntamente com a praia Burra e a praia Banana. Pedimos para nos levarem até lá e avisaram que o caminho por estrada estava impedido com troncos de árvores caídas. Tínhamos de andar uns 15 minutos a pé. Na boa,, b'ora lá. Quando chegámos perto do mar, encontrámos um resort fantasma, uma coisa estranhíssima de se ver. Imaginem um resort de luxo, com bungalows, piscina, restaurante, mas completamente às moscas, junto a uma praia de cortar a respiração. Mete dó. Há dois anos atrás, estava tudo pronto para inaugurar. Tudo mesmo. Mas os sócios entraram em conflito e o resort está-se a degradar e não tarda é engolido pela vegetação. A praia é fabulosa, como se pode ver, e foi aqui que tomámos o nosso primeiro banho de mar nesta ilha. Foi a meio do dia, estava calor e a caminhada ainda nos deixou mais encaloradas. Assim que mergulhámos e nos sentimos refrescadas, olhámos uma para a outra e, numa só voz, deixámos escapar em simultâneo um prolongado "Aaaaaaaaaahhhh!!!!!". E depois veio a gargalhada da praxe, seguida de alguns minutos de puro êxtase e de contemplação. Não sei ao certo no que pensava a C. durante este silêncio, mas não devia ser muito diferente do pensamento que me ocorreu naquele momento: Sentirmo-nos vivos pode ser uma coisa absolutamente maravilhosa!

Ilha do Príncipe: Visita à Roça Sundy



Esta era a casa do "CEO" da roça. Agora tem quartos para alugar
a turistas mas o sul-africano que comprou po Resort Bom Bom também
vai investir nesta roça.








O antigo depósito de água da roça
                                  

A visita à Roça Sundy foi inesquecíivel! Além de ser a roça que eu mais queria ver na ilha do Príncipe, (foi a maior de todas as roças da ilha) proporcionou-me um verdadeiro banquete de mosquitos que deu azo a uma sessão de gargalhadas memorável! Pouco depois de sairmos do Jeep, reparámos que a atmosfera estava repleta de mosquitinhos, bem pecanitos, mas aos milhares! Sabem como é quando reparamos que existe uma núvem de mosquitos no ar? Foi o que aconteceu. Vimos uma núvem e tentámos afastar-nos mais para o lado. Mas havia outra. E mais outra. E ainda outra. Ou seja, a roça inteira era uma núvem pegada de mosquitos que nos entravam pela boca adentro e pelas narinas! E se tentávamos falar, sentíamos logo o "scrunch" de estar a mastigar uns quantos insectos... Besuntámos-nos logo de repelente, apesar dos locais nos garantirem que estes mosquitinhos não picavam. Mas, pelo sim, pelo sim... nao quisemos arriscar.


Ilha do Príncipe: De queixo caído ao ver a Praia Banana!



Logo no primeiro dia na Ilha do Príncipe, fomos a casa do pai do Sandino para a C. lhe mostrar as fotos do pai dela. Ele lembrava-se perfeitamente do senhor e daqueles tempos longínquos. Estiveram ali os dois um bom bocado à conversa. E depois, antes de nos levarem de volta ao nosso "hotel", foram mostrar-nos a Roça Belo Monte e o seu miradouro. E é esta a vista que se tem do miradouro da roça, a Praia Banana em todo o seu esplendor . Esta praia é, juntamente com a Praia Boi e a Praia Macaco, uma das mais bonitas da ilha. Para mim, foi mesmo a mais bonita não só da ilha do Príncipe como de todas as praias onde já estive até hoje. E já fui a umas quantas praias de babar no Brasil, na Córsega, na Sardenha, no México, na Malásia, na Grécia, na Sicília ...mas esta....esta tem o encanto das coisas autênticas e selvagens. E estava assim, vazia, sem vivalma. Adivinhem qual foi a última coisa que fiz antes de me vir embora? Foi dar uns mergulhos nesta praia, poucas horas antes de regressar a São Tomé. É que morria se não fosse à praia Banana depois de a  ter contemplado do miradouro. Seria como mostrar um doce a uma criança e depois não lho dar. Mas umas horas antes de ir para o aeroporto, disse à C. que não nos podíamos vir embora sem meter os pezinhos naquela água turquesa. Ligámos aos nossos guias e 15 minutos depois apareceram nas suas motos e levaram-nos à praia. E assim risquei da lista aquilo que me apetecia mais fazer. Been there, done that. E esta já ninguém me tira.

A entrada da Roça Belo Monte
A Roça Belo Monte tem um potencial turístico desgraçado. Parte da população que nela vivia já foi realojada em casas e dentro de dois anos tudo deverá estar bastante diferente, conforme se pode ler neste artigo da Telanon.Mas já é possível ficar aqui alojado, alugam-se quartos. Fui ver um e era bastante simples. Lá está, para aqui ficar, é obrigatório ter um jeep ou contratar um guia que nos venha buscar e trazer. A grande vantagem é a beleza natural do local e o facto de ter a praia Banana a uma curta caminhada a pé num trilho para aventureiros. Eu fui lá a pé, passando da praia  Caju para a Praia Banana.




O edifício da escola da roça


Outra perspectiva da praia Banana

Onde comer na ilha do Príncipe

A Juditinha foi a nossa cozinheira de eleição
O restaurante da Juditinha é muito modesto, mas é um sítio limpo,
simpático, tem cerveja fresca e apanha a RTP Internacional.

O nosso guia em São Tomé - o Kau - nasceu e viveu no Príncipe e avisou-nos logo que não havia muitos sítios onde comer. Disse-nos que na Pensão Palhota se comia bem mas que era carote, no mínimo 10 euros por pessoa. Recomendou-nos ir à "Juditinha" ou ao restaurante da Domingas, a "Pastelaria Ramos". E foi o que fizemos. A Juditinha (na foto) preparou-nos todos os dias o pequeno-almoço e o jantar, excepto no dia em que almoçámos no Bom Bom Resort e no último almoço na ilha que foi num restaurante perto do aeroporto que pertencia à Domingas. As refeições foram todas (!) marcadas com antecedência, caso contrário arriscávamo-nos a que não houvesse comida. E todas as refeições foram acompanhadas de conversas onde eu e a C. procurávamos ao máximo saber coisas sobre a ilha e sobre as pessoas que nela vivem. E como não se passa nada naquele nico de terra, excepto quando é a bienal da cultura, toda a gente gostava de conversar connosco. Afinal, só estavam seis turistas na ilha, já a contar connosco.

Uma espécie de caldeirada de andala, um peixe que lembra imenso o atum.

Um polvo estufado que se desfazia na boca

As refeições foram todas saborosa e quase sempre à base de peixe e com acompanhamento de arroz ou banana frita. Como a Juditinha era um doce de pessoa, fomos ganhando confiança para lhe pedir pratos típicos da ilha como "andala com molho de fogo" e"Bôbô frito" e papaias para a sobremesa. Ainda pedimos que nos preparasse o famoso "Calulu", mas dá uma trabalheira imensa porque implica utilizar umas 20 variedades de temperos diferentes: vários tipos de malagueta, safu e outras ervas nem sempre fáceis de encontrar.

Peixe com molho de fogo


Pagámos uma média de 5 euros cada por refeição, o que para esta ilha é um excelente preço. Existe ainda o Restaurante da Pensão D&D e um outro restaurante na marginal, o "Passô". Mas que fazer? A Juditinha conquistou-nos com a sua simpatia, com as omeletes ao pequeno-almoço, com as frutas tropicais à sobremesa, com a oferta de doce de banana, e eu, que adoro saltitar e conhecer sítios novos, dei por mim a adorar fazer as refeições quase todas no mesmo sítio. As refeições na Juditinha tiveram ainda o bónus de poder andar com esta bebé, a Reginalda, ao colo o tempo todo que me apetecesse. Levou tantos amassos! Os nomes das pessoas são, quase sempre, uma mistura do nome do pai com o nome da mãe. E depois dá nisto, Reginalda...

Ilha do Príncipe: Bom Bom Island Resort

O Bom Bom Island Resort fica a cerca de 25 minutos de mota/Jeep da cidade
A Alexandra, uma portuguesa de Aveiro que trabalha na recepção, fez-nos
um tour do Resort, incluindo visita aos  bungalows.
Tivemos as quatros praias do Resort só por nossa conta.
A piscina, mesmo quando chega a época alta, está quase sempre vazia.




Não me podia ir embora da Ilha do Príncipe sem ir ao Bom Bom Island Resort. Já tinha lido algures na net que seria possível visitar o resort e passar lá um dia inteiro, inclusivé almoçar, desde que telefonasse previamente. Foi o que fizemos. Pedimos aos nossos moto boys para nos irem buscar ao sítio do costume, à Juditinha (merece um post só para ela, mais à frente), e às 9h15 já estávamos literalmente a babar com as várias praias do resort, com os canteiros pejadinhos de flores e o chilrear da passarada. Depois o tempo foi quase todo passado de rabo para o ar a fazer snorkeling, maravilhadas com a quantidade de peixes exóticos que podíamos ver com água pela cintura.
Quando voltei para Portugal, muitas pessoas estranharam o facto de estar tão pouco bronzeada. Está desfeito o mistério. Passei o tempo quase todo debaixo de água. E a verdade é que o sol por estas bandas não é nada forte, pelo menoso em Dezembro. Segundo a T., que vive em São Tomé, para ficar com um cor razoável seria preciso estar esparramada ao sol vários dias seguidos entre as 10h00 e o 12h00.


O interior do bar do resort.
Foi assim que fomos recebidas, com a oferta de uma água de coco
e um sorriso do tamanho  do mundo. Cinco estrelas.
Dá para perceber porque é que passámos horas a fio dentro de água?

Uma das coisas que mais nos surpreendeu, neste resort foi constatar que as paisagens deste ilhéu lembram estupidamente Brasil. Mas se calhar não é assim tão estúpido, tendo em conta que o continente africano e a América Latina já estiveram colados há alguns milhões de  anos atrás. É que se me dissessem que estava em Angra dos Reis, eu acreditava. Como já estive na chamada Costa Verde (fui do Rio de Janeiro até Paraty e recomendo esta viagem), posso confirmar que as semelhanças são surpreendentes. O mar tem os mesmos tons esverdeados e a vegetação é muito semelhante. Ou seja, Ilha do Príncipe e Costa Verde: separadas à nascença.

Foi nesta lagoa natural que passámos mais tempo de rabiosque para o ar.
Adorámos este ideia: canteiros feitos com pirogas!
Bela vida! Almocinho à beira-mar por cerca de 10 euros,
um preço bastante decente para um resort de luxo.




A planta "rabo de macaco"


Mark Shuttleworth. É este o nome do milionário sul-africano que vai investir em unidades de turismo ecológico na ilha do Príncipe, sem esquecer a preservação da cultura da ilha e as necessidades agrícolas da população. Consta até que vai patrocinar a construção de um novo aeroporto. Talvez se recordem do nome dele, já que foi o primeiro africano a viajar para o espaço, motivo pelo qual algumas pessoas se referem a ele como "o homem da lua". Actualmente, já detém cerca de metade da ilha do Príncipe e tem estado a retirar famílias inteiras de Roças (onde vivem todas aos molhos, sem qualquer privacidade) e a colocá-las em casas dotadas de boas condições. Passei por algumas. Uma das roças que vai merecer especial atenção por parte deste milionário é a Roça Sundy. Tudo indica que centenas de pessoas irão ganhar emprego nestas unidades hoteleiras e agrícolas. No passado mês de Maio (2011), o Governo do Príncipe assinou um acordo de investimento com o milionário sul-africano. Se os projectos de concretizarem,  o nome da empresa de Mark Shutleworth não poderia fazer mais sentido: HBD - Boa Vida.