Uma semana enorme em são Tomé


Vou finalmente começar a relatar a última viagem que fiz ao estrangeiro. No passado mês de Dezembro, estive na ilha de São Tomé e na ilha do Príncipe. Foram dias longos e quentes a acordar quase sempre por volta das 6h30 da manhã e deitar-me entre as 11h30 e as 02:00. Houve alguns dias em que pouco dormi. Regressei cansada, mas consolada por ter vivido experiências tão intensas, por ter conhecido pessoas tão marcantes e por ter saboreado um monte de coisas que nunca tinha comido. Marquei tudo sozinha, sem agência. Mas agora tenho visto pacotes a preços fantásticos, até mesmo combinados com estadia em São Tomé e no Príncipe. Mas a forma como fiz esta viagem permitiu-me um contacto com os locais - pessoas de São Tomé e portugueses e estrangeiros que para lá foram viver - que nunca teria sido possível se me tivesse instalado em Resorts. Em São Tomé fiquei na casa que recebe os funcionários do Instituto da Criança. Deu para quebrar aquela ideia romântica de que trabalhar numa ilha tropical é levar uma vida mais calma com sabor a férias... Falso. Totalmente falso. As pessoas trabalham arduamente, de forma incansável, até para poderem  justificarem  os apoios que recebem. Na ilha do Príncipe, fiquei na Santa Casa da Misericórdia graças à dica preciosa da minha amiga T. Mas já lá vamos. Há muitas, muitas histórias para contar. E atrevo-me mesmo a dizer que esta foi uma das melhores viagens que já fiz em toda a minha vida. 

E de um conjunto de contentores nasceu um Starbucks



A Starbucks inaugurou no passado dia 13 de Dezembro, em Seattle (EUA) uma cafetaria muito original, composta por quatro contentores. Trata-se de uma iniciativa experimental, no âmbito da política de sustentabilidade da marca, e tem estado a dar muito que falar. Uns amam, outros odeiam. Eu gosto muito da ideia e do efeito "urban trash" do resultado final. Usar contentores não é de todo uma novidade. Recordo-me de já ter visto alguns a serem usados como balcão de loja, bar, escritório e até já vi vários a fazerem de muros, em Berlim. Mas este efeito é novidade. E tema grande vantagem de ser portátil. Se não pegar em Seattle, podem sempre tentar outra localização.

Casa Surf Project & Suites - California

O quarto decorado pela Rip Curl
O quarto decorado pela Billabong

Uma hora sul de Los Angeles, em Laguna Beach, o La Casa del Camino Hotel dispõe de 10 suites temáticas, decoradas por vários designers ao serviço de diferentes marcas de artigos de surf e skate. O mar e o céu são as principais fontes de inspiração do Casa Surf Project & Suites. Adormecer enquanto são projectadas imagens de ondas nas paredes ou assistir a clips de vídeo no LCD da casa de banho são algumas das experiências que se podem viver neste Hotel onde marcas como a Billabong, Rip Curl, Roxy e Quiksilver marcam presença de forma original.

Um quarto da Etnies, inspirado num campeão de skate

No centro histórico de Bolzano

Piazza Walther com o Duomo ao fundo (séc. XVI) de telhado colorido e ao
centro a estátua dum trovador do séc. XIII - Walther Von der Wolgerweide



A rua do mercado matinal onde se vendem produtos locais
Via dei Portici













Bolzano é um miminho. Está cheia de edifícios decorados com empenas, frescos, varandinhas, torreões... E tem um mercadinho matinal delicioso, com bancas ultra-arrumadinhas, cheias de produtos locais.
Cogumelos secos, ervas e especiarias
Peperoncino para todos os gostos


Queijos e enchidos




E aqui termina o relato de 5 noites em Itália, passados entre a região de Trentino-Alto Ádige e o Venetto. Foram  2 noites em Dobbiaco, 1 em Verona e 2 em Bolzano, com passagem por montes de vilas, lagos e outros locais que nem sequer referi mas que merecem ser descobertos.  Acho quer nunca uma estadia inferior a uma semana me tinha parecido tão longa.  Tirei uma quantidade pornográfica de fotos... Mas os dias estavam lindos e Itália.... será sempre Itália, o meu país de eleição na Europa.

Bolzano : Hotel Eberle







Em Bolzano, a capital da região italiana do Sud Tirol, fiquei instalada no Hotel Eberle. Este hotel fica numa colina coberta de vinhas, com uma vista magnífica da  cidade e das Dolomites. Para aqui chegar há que subir uma estradinha muito ingreme que vai serpenteando por entre quintas abertas ao público para a venda de vinho. Ou seja, é impensável ficar neste hotel sem ter um carro. A não ser que se seja adepto das caminhadas, coisa que não falta por estas bandas. Bolzano é considerado um paraíso do jogging e das caminhadas e está repleta de trilhos que atravessam cenários idílicos. Um desses trilhos atravessa (literalmente!) o Hotel Eberle pelo que quando tomava o pequeno-almoço no terraço foram várias os corredores que fizeram tangentes às mesas. Achei engraçado haver um trilho a passar mesmo pelo meio de um hotel! Quanto ao hotel, tem bons quartos, uma vista maravilhosa, é tranquilo (apesar de ter um teleférico a passar por cima, mas não faz nenhum ruído) e serve um bom pequeno-almoço numa sala interior ou no terraço. Só peca por não ter uma piscina aquecida (ia feitinha para uma banhoca ao final do dia, habituada aos hotéis de montanha que têm todos piscina aquecida e sauna) e pela decoração de alguns espaços comuns que precisavam de um "Extreme Makeover". Já o facto dos empregados falarem alemão a tempo inteiro, embora arranhem bem o italiano, é perfeitamente normal. A cultura tirolesa sobrepõe-se fortemente nesta região ao ponto de ser raro, e estamos em Itália, avistar uma simples pizzaria. Aqui é mais speck (bacon), salsichas e chucrute. E cerveja. Muita cerveja.

Trento: Capital da região de Trentino

Ao fundo, a Catedral (Duomo) de estilo românico (séc. XIII).
A praça principal de Trento onde outrora existiu um fórum romano

Ao regressar de Verona, em direcção a Bolzano, parei em Trento para ver o centro. Assim de repente, o nome da cidade fez-me logo lembrar um momento histórico, o Concílio de Trento (1545-63, estabelecido pela Igreja Católica para definir reformas com o fim de cativar os alemães e os Protestantes a regressarem ao Catolicismo. Em duas horitas, sem correrias, deu para ver e rever o centro. Gostei particularmente de uma rua cheia de palacetes renascentistas e do ambiente dinâmico da cidade, repleta de estudantes universitários que enchem as muitas esplanadas.

Em frente, o Palazzo Pretorio



Palacetes como este, cheio de frescos na fachada, é mato.


E claro, como qualquer terreola da região, Trento também tem um castelo. Chama-se Castello del Buonconsiglio e é mega!!! Foi construído no séc. XIII para defender a cidade que funcionava como um posto fronteiriço importante na estrada que fazia a ligação entre o Norte de Itália e o Norte da Europa. Dentro do castelo, que está mobilado e pode ser visitado, funciona o Museu Provinciale que exibe pinturas, esculturas, peças de cerâmica e  artefactos pré-históricos. Mas confesso que já estava a ficar um bocadito cansada de castelos... Nesta região, são mais que as mães. Mesmo. 

Um ritual em cada viagem

Esta é a mais recente, foi tirada na Ilha do Príncipe e os Robinson
ainda não a têm. Ora toma.

Uma amiga enviou-me recentemente o link para o site de uma família que há já vários anos faz fotos dos seus pés, enquadrando-os na paisagem. Achei um piadão porque eu comecei a fazer o mesmo há uns quatro anos atrás. Tornou-se mesmo um ritual,. Com a diferença, lá está, que esta família- os Robinson - já fez mais viagens em 7 anos (começaram em 2005) do que eu nos últimos 20... Logo tem muito mais fotos, muitas delas de fazer inveja!. O álbum começa logo com quatro fotos tiradas em Portugal e continua por esse mundo fora, passando pela Austrália, Vietname. Nova Zelândia, Croácia, Escócia, Bulgária, Chile e muito mais. Simplesmente maravilhoso!

O hotel onde fiquei em Verona


Como calculava que fosse chegar a Verona já depois do jantar, dormir uma só noite e sair para passear logo pela manhã, não me preocupei muito com o número de estrelas do hotel. Bastava-me um hotel limpo, confortável, com algumas comodidades e uma boa localização. Depois de fazer os TPC a ler os comentários do Tripadvisor e do Booking, optei pelo Hotel Marco Polo que fica a uma curta distância a pé da Arena  romana, tem parque de estacionamento (paga-se 15 euros mas é altamente aconselhável porque há parquímetros por todo o lado), Wi-Fi e um pequeno almoço muito elogiado em todos os fóruns que pesquisei. Esta do pequeno-almoço é que me convenceu de imediato. E de facto, era igual ao de muitos hotéis de quatro estrelas. Para um noite, este hotel cumpriu bem o seu papel. E até cumpre para mais do que uma noite. Um quarto duplo ronda os 80 euros. Não acho caro tendo em conta a localização. E a verdade é que prefiro sempre gastar menos no alojamento e mais nas refeições  Talvez quando tiver 60 anos a coisa seja diferente.

Ir às compras em Verona

Sapataria Il Laccio

Portei-me muito bem durante toda a viagem até... chegar a Verona. O comércio é de babar em qualquer terreola, mas nas cidades e vilas mais pequenas fecha ao domingo e à segunda. Em Verona, era terça-feira e encontrei mais e melhores lojas espalhadas por ruas pedonais. Como sucede quase sempre (e ainda bem), o M. ficou a ler numa esplanada e eu fui ver montras sózinha. É um pacto excelente porque assim ninguém empata ninguém e, por momentos, sinto-me completamente livre como se a cidade fosse só minha. Devo ter entrado em cinco ou seis lojas, não mais. Sou selectiva e só entro se alguma coisa me chamar a atenção. Comprei um vestido, uma camisola, umas botas e várias garrafas de limoncello para oferecer. O ponto alto das compras foi a sapataria que tinha "n" modelos de babar de sapatos e botas em pele a uma média de 60 euros o par... Apetecia-me ter comprado três ou quatro pares. Mas contentei-me com um. A loja chama-se Il Laccio e vai ficar debaixo de olho em futuras idas a Itália porque tem modelos bem giros e existem várias espalhadas pelo país. É uma pena não terem vendas online...


Outro dos meus divertimentos foi salivar junto às vitrines das pastelarias Mas resisti heroicamente à tentação do açúcar. Não que eu seja muito gulosa, até nem sou. Mas adoro experimentar coisas novas e em Verona vi vários bolos que nunca tinha visto nem comido. O mais famoso de todos é uma especialidade local, a Torta Russa, que leva amêndoa triturada e rum. 


Se procurarmos bem, é possível encontrar lojas com preços ao nível de uma Zara ou de uma Mango mas com um atendimento mais personalizado. Verona tem muitas universidades e talvez seja este o motivo para ter tantas lojas com preços acessíveis. Fiquei um bocadito mais pobre neste dia. Mas tenho este hábito de longa data de gostar de levar prendas ao meu núcleo duro. E sou feliz assim.

Uma igreja de Verona transformada em Restaurante

Um carpaccio que de tão grande que era dava uma refeição.

Risotto de legumes

Já passava das duas da tarde quando entrei, ao acaso, num restaurante perto de Castelvechio, na Corso Porta Palio, o Restaurante Pizzeria Prima Fila. Por fora, parecia banal, mas tinha algum movimento o que poderia ser um bom indício de que se comia ali bem. Quando entrei na sala de refeições, fui surpreendida por um espaço enorme com uma decoração sofisticada. Visto de fora, ninguém diria. É que o edifício onde funciona agora o restaurante era, originalmente, uma igreja das Carmelitas Descalças (Séc. VIII). Daí o pé-direito altíssimo e a existência de uma outra sala de refeições, numa mezzanine, onde em tempos cantava o coro da igreja. Giro! 





Monumentos de Verona

A Arena na Piazza Bra que é muito semelhante a outra que já vi em Pula,
na Croácia. Julga-se até que terá sido desenhada pelo mesmo arquitecto.

Tal como acontece junto ao Coliseu de Roma, existem
vários gladiadores que cobram para serem fotografados

Esplanadas com vista para Arena

O Anfiteatro Romano, mais conhecido por Arena, é sem dúvida o ex libris da cidade. Data do século I e na altura em que foi construído ficava fora das muralhas da cidade. Mas os espectáculos de gladiadores e jogos que aqui tinham lugar davam tanto que falar que vinham pessoas de muito longe só para os poderem presenciar. A Arena podia acolher até 30 mil pessoas a gritar "mata" e "esfola"... Hoje em dia, os shows que aqui têm lugar são bem mais pacíficos e sem pinga de sangue. Entre Junho e Agosto é celebrado um festival lírico que coloca em cena quatro espectáculos de ópera. 



Construído na segunda metade do séc. I a.C, o Teatro Romano fica num ponto alto da cidade de onde se tem uma vista magnífica do rio Ádige que, como o nome indica, nasce na região de Trentino-Alto Ádige. O que sobrou deste teatro foi recuperado mediante escavações que decorreram no séc. XIX e terminaram recentemente.



O túmulo dos Scaligeri é outra das atracções turísticas de Verona, um monumento funerário onde estão sepultados vários membros desta família que governou a cidade entre os séculos XIII e XIV. Em forma de templo, estes túmulos foram edificados entre o Palácio e a igreja da família, a Chiesa Santa Maria Antica. São considerados um dos mais belos exemplos de arte gótica.



Em cima, a Torre Lamberti junto à Piazza delle Erbe, uma praça imperdível e com uma energia incrível. Foi sem dúvida o meu "spot" preferido na cidade. A praça fica por cima do local onde em tempos existiu um Fórum Romano e está repleta de edifícios com frescos, adornados com esculturas e torres. O burburinho de gente é constante até porque nesta praça existe uma feira, todas as manhãs, onde se vendem produtos locais. Vale a pena passar algum tempo a observar quem passa, a ver as esculturas da Colonna del Mercato, da Berlina e da Fontanna di Madonna Verona.

O mercado matinal com bancas de frutas, legumes, flores, mel, pasta e temperos



Colonna del Mercato (1401)
Fontanna  di Madonna Verona (séc. I d.C)


Reparem no pormenor do osso de baleia pendurado no arco da foto em cima, conhecido por "Arco della Costa". Trata-se do osso de uma costela de baleia e atravessando este arco vamos dar a outra praça que merece uma visita. a Piazza dei Signori, onde fica o Palazzo Comunale (séc. XII)  e a Torre dei Lamberti (séc. XII). A Torre foi construída para ajudar a vigiar a cidade, facilitando a detecção de incêndios e a aproximação de inimigos, como os Venezianos. Mas ainda assim, a cidade foi dominada por estes últimos entre 1404 e 1796. 
A torre Lamberti tem 84 metros de altura e é possível
subir lá acima, a pé ou de elevador e apreciar a vista da cidade,
Palazzo del Comune
Palazzo Maffei na Piazza dei Signori

Ao fundo, o que resta da Ponte Pietra, uma ponte romana que foi parcialmente
 destruída durante a II Guerra Mundial e mais tarde reconstruída.

Terminei o meu passeio em Verona com a visita ao Castelvechio, um castelo construído entre 1354 e 1357 a mando do Cangrande II da família Scala. Ou seja, da familia que em tempos governou Verona e que mandou construir os túmulos góticos que já referi noutro post. Tomara muita família real ter um castelão deste tamanho. Mas não sei se a família teria muitos amigos já que este castelo era uma habitação totalmente fortificada. Ou seja, uma casa-fortaleza. Hoje em dia, parte do castelo funciona como Museu, expondo arte sacra, esculturas em bronze, armas e armaduras e vários achados arqueológicos.







Resumindo, vale a pena dedicar um dia inteiro de visita a Verona, se não mais. Mas um dia chega para ver o centro histórico. Se der tempo, vale a pena ver a cidade à noite para ver todos os monumentos iluminados. E depois é seguir para outras paragens porque o que não falta são outros pontos de interesse a uma curta distância de carro. Almocei maravilhosamente bem e meti-me ao caminho para as minhas últimas paragens antes de regressar a casa: Trento e Bolzano.