Favela tour: 10 factos curiosos sobre a favela da Rocinha.

Ao fundo, uma ponte desenhada por Óscar Niemayer
A Rocinha já existe há 82 anos. Tem 300 mil habitantes e continua a crescer.
Segundo dia no Rio de Janeiro, segundo dia de chuva... Ora bolas... Mas os trópicos são mesmo assim, ora estão 40 graus à sombra ora surge uma frente fria e chove durante vários dias seguidos. Uma vez que a zona antiga do Rio já estava vista e revista e ir para um shopping queimar horas estava fora de questão, eis que a minha prima que vive no Rio sugere fazer um tour na favela na Rocinha, algo novo para ela também. Foi só fazer um telefonema e 30 minutos mais tarde estávamos numa das entradas da Rocinha com a Luísa, a nossa guia que, como todos os guias que fazem esta visita guiada, mora na favela. Estivemos cerca de três horas a caminhar na Rocinha,  entre edifícios, ruas e lojas emblemáticas e, claro, fomos bombardeando a Luísa com perguntas atrás de perguntas ao longo do passeio. E deu para ficar a saber alguns factos bem curiosos. 

1- Existem cerca de 1120 favelas no grande Rio de Janeiro e na maior parte delas a população vem de outros estados do Brasil em busca de trabalho. Na Rocinha, que é a maior delas todas e cujo nome deriva da palavra "Roça", 85% dos habitantes são nordestinos.

2- Dentro da Rocinha existem 85 igrejas de diferentes correntes religiosas. AS pessoas são tão crentes que a maior parte dos negócios locais tem nomes relacionados com Deus.


3- Nas zonas da favela onde vivem estrangeiros, que são uma minoria, essa área acaba por ganhar um termo relacionado com o país de origem. Por exemplo, existe uma zona da favela  onde vive uma portuguesa que ficou conhecida como "Cachopa"

As fachadas de alguns edifícios foram pintadas pelo PAC (Programa
de Aceleração de Crescimento), em parceria com um fabricante de tintas,
ao estilo de El Caminito, um bairro colorido em Buenos Aires

4- Existem 69 creches espalhadas nesta favela. A taxa de natalidade é elevada. No entanto, muitas das crianças em idade escolar não vão à escola porque os ordenados dos professores não compensam o risco de vida.... Não é fácil encontrar quem queira trabalhar aqui... Já houve casos de professores espancados e assassinados por pais de alunos que, obviamente, não estavam satisfeitos com as notas dos seus filhos sobredotados...



A nossa guia, Luísa, a mostrar um banco feito com garrafas

5- A Rocinha é uma "cidade" livre de impostos e de contas. Quem vive e quem trabalha aqui não paga água, não paga luz, não paga nada... O mais curioso é que as pessoas recebem as cartas da companhia de água e de electricidade em casa, mas com tudo a zero...  Mas as contas chegam assim mesmo e são importantes para confirmar a morada. A electricidade é roubada aos vizinhos mais próximos o que faz com que, volta e meia, o quadro eléctrico da "vítima" estoire e haja um apagão. Mas o pessoal já está habituado. Tá-se bem.

Reparem no emaranhado de fios. Alguns deitam fumo
e deixam no ar um perfume estorricado...
6- "E como funcionam os correios?", perguntámos nós. Pois bem,  a rua principal da favela chama-se "Rua do Canal" e muitas das ruas são numeradas, ou seja, existe a Rua 1, a Rua 2, a Rua 3... E como as portas das casas não têm numeração, as cartas são entregues na loja mais próxima e depois a vizinhança ajuda a distribuir por quem conhece. O sentido de comunidade é muito forte e todos colaboram na entrega de cartas e electrodomésticos e no apoio a quem está doente. 

A Rua do Canal

7- Privacidade? O que é isso? Todos sabem a vida de todos como se fizessem parte da mesma novela. As casas não têm isolamento sonoro e assim quando alguém quer escutar música, escutam todos. Quando uma família discute, todos sabem o motivo. Consta que ao fim de semana chega a ser  impossível dormir porque é normal haver várias festas em simultâneo. Já quando chega a hora da novela da noite, o silêncio é sagrado!




8- Cerca de 25% da população vive de pequenos negócios dentro da favela: lanchonetes, mercearias, cabeleireiros, lojas de roupa, oficinas, etc A restante população tem emprego, sendo que a maior parte trabalha para famílias ricas como motorista, babá, empregadas domesticas, jardineiros, etc  Eu posso dizer que dei o eu contributo para a economia local:  Fiz um tour com uma habitante da favela, almocei por 3 euros na "lanchonétchi" da Dona Ângela e comprei umas hawaianas lindas numa loja da rua principal que custaram menos 25% do que nas lojas de Ipanema. É tudo mais barato na Rocinha.


Reparem na "bunda" do manequim... Só no Brasil!
Bora à favela comer um sushi? 
Um bar de açaí
9- Dentro da favela também existem classes sociais. Os que vivem melhor são os comerciantes com lojas e restaurantes na rua principal, junto à estrada. São espaços comerciais muito apetecíveis porque os lojistas não pagam água nem luz e não declaram rendimentos. Estas pessoas têm casa maiores, bem localizadas (junto ao canal) e muitas vezes alugam ou vendem a laje das suas casas para que outros possam construir em cima. Isto faz com que existam alguns "arranha-céus" na favela, como este da foto de baixo.


O prédio cinza claro com riscas azuis que se vê ao fundo
 á direita é um dos melhores da favela. Uma casa de 120 metros
 quadrados tem um renda de cerca de 350 euros.

10- A população da favela tem fácil acesso a várias actividades recreativas: desporto, pintura, teatro, artesanato. Existe uma loja que vende ímanes, roupa, quadros, esculturas e outros artigos quase sempre feitos com materiais reciclados como garrafas, tampinhas, caixas de ovos, etc

Escola de teatro
Escola de samba da Rocinha
A piscina
Loja de artesanato feito pelos habitantes da favela.

O que fazer no Rio de Janeiro num dia de chuva?


Nem sei por onde começar para escrever sobre a minha ida ao Rio. Não é fácil escrever sobre a cidade que mais me deslumbrou até hoje. Tinham passado 8 anos desde a última viagem ao Rio (esta foi a terceira de muitas, espero...) e estava louca de saudades! Bastava ouvir Tom Jobim, Vinicius ou Toquinho para ficar a logo suspirar e a sonhar com águas de coco no calçadão de Ipanema... Se pudesse, visitava esta cidade de dois em dois anos. Mas a verdade é que é mais caro ir ao Rio do que a Tóquio, Singapura ou Kula Lumpur, embora a viagem seja directa e mais curta. Por este motivo, o regresso foi sendo adiado ou trocado por outros rumos. Mas o destino pregou-me uma agradável surpresa e eis que, um certo dia, dei por mim com viagem marcada para o Brasil. Maravilha! Finalmente ia regressar à "minha" cidade e ver alguns locais que ficaram por descobrir em viagens anteriores. Só não estava era a contar com um dia inteiro de chuva logo à chegada... Mas os trópicos são mesmo assim. Num dia estão 20 graus e no dia seguinte 40. E já que o "Pedrão" não estava a do nosso lado (adoro o "petit nom" que os brasucas usam para referir São Pedro) e tínhamos uma tarde inteira pela frente, fomos ver a zona histórica do Rio. A chuva que se dane. Estava de férias, com uma temperatura agradável para andar na rua e isso bastava. Aqui ficam alguns locais emblemáticos da cidade que pude ver e rever na zona histórica do Rio de Janeiro. 

REAL GABINETE DE LEITURA

O Real Gabinete de Leitura fica no nº 30 da  Rua
Luís de Camões e apresenta uma fachada de estilo manuelino inspirada no Mosteiro dos Jerónimos.
Fundada em 1837, esta Biblioteca reúne o maior numero de obras
de autores portugueses fora de Portugal., cerca de 400 mil.
Vitral no tecto do edifício.
Em 1880, o imperador D. Pedro II (1831.1889)  colocou a primeira pedra

O Real Gabinete Português de Leitura surgiu da iniciativa de um grupo de 43 emigrantes portugueses, na sua maioria comerciantes, com o intuito de promover a divulgação da cultura portuguesa no Brasil. Depois da sua criação, recebeu sempre uma cópia de todas as obras publicadas em Portugal, incluindo uma das primeiras edições dos Lusíadas de Camões (1572). Se tivesse de recomendar a alguém um só local a visitar no Rio, seria esta Biblioteca que, felizmente, está aberta ao público de forma gratuita desde o ano de 1900.


CONFEITARIA COLOMBO






Fundada em 1894 por dois emigrantes portugueses, a Confeitaria Colombo transporta-nos para o universo mágico da Belle Époque, altura em que era frequentada pela elite brasileira das artes e da política. A decoração, composta por imponentes móveis de madeira jacarandá, espelhos de cristal fabricados em Antuérpia e vitrais coloridos é absolutamente deslumbrante. Não admira que a Confeitaria Colombo figure na lista dos 10 Cafés mais bonitos do Mundo.




PAÇO IMPERIAL
O convento do Carmo fica "colado" ao Paço Real

O Paço Imperial está localizado na Praça XV

Esta foi a antiga sede administrativa dos Governadores e Vice Reis do Brasil no Rio de Janeiro. Foi aqui que se instalou D. João VI e a sua corte , em 1808, após a fuga de Portugal devido às invasões napoleónicas. Depois da proclamação da República, o edifício foi cedido aos Correios e Telégrafos e, hoje em dia, funciona como centro cultural.


ARCOS DA LAPA



Em tempos conhecido como Aqueduto Carioca, os Arcos da Lapa são talvez a obra colonial de maior envergadura na cidade do Rio de Janeiro, contribuindo para a distribuição de água na cidade até finais do séc. XIX. A sua construção teve início em 1744 e incorpora 42 arcos duplos ao longo de 27 metros de comprimento e 17 de altura. Tudo graças à mão de obra de escravos indígenas e africanos. Em 1896 o aqueduto passou a ser utilizado pela companhia de Carris Urbanos. Se em Lisboa temos o famoso percurso no eléctrico 28, no Rio de Janeiro é obrigatório fazer um passeio de bonde no bairro se Santa Teresa, passando no topo destes arcos. 


IGREJA DE NOSSA SENHORA DE CANDELÁRIA

A Igreja da Candelária fica na Praça Pio X e está virada
para a Baía da Guanabara.
A planta tem a forma de uma cruz latina

Esta é a Igreja mais antiga do Rio de Janeiro. Data de 1630 e é toda em mármore com vitrais lindíssimos, painéis de Zeferino da Costa e portas em bronze. A Candelária, como lhe chamam os cariocas, ficou mais conhecida por ter sido em seu redor que se deu uma chacina em 1993. Ainda assim, a igreja continua a ser palco de inúmeros casamentos.

PALÁCIO TIRADENTES



É aqui que está sediada a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. O edifício foi construído em 1926 no local onde antes xistira o Parlamento Imperial e onde esteve aprisionado o alferes Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier). 


TEATRO MUNICIPAL


Inaugurado em 1909, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro recria o estilo dos teatros europeus de finais do séc. XIVIII, nomeadamente a Ópera de Paris. Está localizado na Cinelândia, um bairro que ganhou este nome dada a elevada  concentração de salas de cinema e teatro que, em tempos, havia nesta parte da cidade.

PALÁCIO PEDRO ERNESTO


É neste palácio que funciona a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Mais um edifício que recria a arquitectura europeia dos séculos XVIII e XIX.


CATEDRAL PRESBITERIANA DO RIO DE JANEIRO

Esta igreja data de 1862

Esta catedral de estilo neogótico inspirada na catedral de Saint Pierre (Genéve) está no meio de edifícios modernos o que causa um forte impacto.


CATEDRAL METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO



Não é preciso andar muito a pé para passar da zona antiga do Rio para a zona moderna. E é em pleno centro da zona financeira da cidade que encontramos um edifício em forma de cone que se destaca de todos os outros. Não acho que seja bonito por fora, mas por dentro é impressionante porque a luz atravessa quatro paredes repletas de vitrais e cria um ambiente único.


E foi este o passeio que fiz durante uma tarde no centro histórico da cidade. Mesmo com chuva, foi uma tarde interessante com paragem para água de coco e para um almoço que custou cerca 5 euros num dos muitos restaurantes com serviço buffet (prato + sumo natural) que existem na zona antiga.. Como se pode constatar, o Rio é muito mais que samba, futebol e praia.