A entrada para a Jonker street, a principal rua da China Town repleta de lojas e restaurantes que servem bolinhas de arroz com diferentes recheios, um prato típico local. |
Fachada de uma das muitas lojas de antiguidades de Jonker street. Existem lojas com artigos da Tailência, China e Indonésia. |
Algumas lojas são especializadas em chás, doces de manga , bolachas de coco e tares de ananás Baba Nyonya, uma receita de um povo que descende de chineses que casaram com mulheres malaias. |
Os tuc-tuc de Malaca são assim, pirosinhos até dizer basta. Uma hora de passeio custava apenas 4 euros. |
Christ Church. Esta igreja holandesa é das imagens mais divulgadas de Malaca. |
Senhor Rodrigues, traga-me mais uma
cerveja, por favor!” Esta seria uma frase banal no dia-a-dia de qualquer
esplanada em Portugal, Mas não o é, certamente, quando usada numa esplanada a
mais de dez mil quilómetros de distância. Estamos em Malaca, uma cidade no sul
da Malásia continental. E quinhentos anos depois da conquista desta cidade por
Afonso de Albuquerque, ainda há quem se exprima na língua de Camões.
 vista do monte de São Paulo. |
Assim que comecei a fazer o “trabalho de
casa” para definir a rota a seguir na Malásia, sabia que Malaca seria um ponto de paragem obrigatória. Depois de 3 dias em Singapura,
dirigi-me de táxi (é barato) para a cidade malaia fronteiriça - Johor Bahru – onde aluguei um
Proton no aeroporto, um carro de marca nacional. Duas horas e meia mais tarde, de condução à esquerda (a Malásia foi ocupada pelos ingleses...). chegávamos a
Malaca ainda a tempo de almoçar. Depois de comer, fomos percorrer o pequeno
bairro de China Town, visitando algumas das suas lojas de antiguidades e de
artesanato e vendo as fachadas das várias casas, tão ricas em pormenores
arquitectónicos, como mostram as fotos. Deambulei pelas várias ruas adjacentes, enquanto passava
por templos chineses, templos hindus e mesquitas. Mas estava em pulgas para ver o que restava da fortaleza portuguesa e para visitar ao bairro dos portugueses, a cerca de 3 km do centro da cidade. Mas já lá vamos. Primeiro vou falar do único monumento português que sobrou do tempo de Afonso de Albuquerque.
A Porta de Santiago é tudo o que resta da antiga fortaleza portuguesa. Os ingleses espatifaram o resto. |
A igreja de são Paulo, mandada construir por um capitão português em 1590 e a estátua de S. Francisco Xavier que ali esteve sepultado durante 9 meses. |
Afonso de Albuquerque chegou a a esta
cidade em 1511, ávido por especiarias e pelo domínio de rotas comerciais.
Quinhentos anos depois, são poucos os vestígios da passagem dos
portugueses. Na base do monte de S. Paulo, a Porta de
Santiago sobrevive graças a Sir Stamford Raffles – fundador de Singapura – que
fez questão de não a deixar destruir (obrigada, Sir Raffles, onde quer que estejas!). Esta porta em ruinas é tudo o que resta
da antiga fortaleza – A Famosa – construída por Afonso de Albuquerque em 1512
e, mais tarde, destruida pelos britânicos, em 1807. No topo do monte,
encontra ainda uma igreja em ruínas, a igreja de S. Paulo, erguida em 1521. S. Franscisco
Xavier, fundador da Ordem Jesuíta que esteve aqui sepultado durante 9 meses, antes
do seu corpo ser trasladado para Goa, onde ainda hoje se encontra. No interior
do recinto existem várias pedras tumulares encostadas às paredes com inscrições
em inglês, holandês e português.
Mas que mais há para ver em Malaca que
remeta para os portugueses de outrora? Foi esta a pergunta que fui colocando aos vários locais com quem me fui cruzando ao longo da tarde. A resposta foi
unânime: o Museu Marítimo e o bairro português.
A réplica do Flora del Mar onde funciona o Museu Marítimo |
O Museu Marítimo foi instalado numa
réplica de uma galeão português do séc. XVI – o Flora del Mar - que se afundou no
estreito de Malaca juntamente com um tesouro valioso. A exposição deste museu
relata a história do sultanato de Malaca desde o séc. XIV até à ocupação
britânica e apresenta alguns objectos antigos como mapas, armas e instrumentos
marítimos. Depois de ver o barco por fora, aseguimos finalmente para o bairro
português de Malaca, designado localmente por Ujong Pasir. Esta seria a chamada
“cereja em cima do bolo”, para terminar o dia em grande estilo.
Fachada do Museu Português que fecha à segunda-feira. E em que dia é passei neste local em Malaca? Numa segunda... |
Ao fim de semana costuma haver festarola com ranchos folclóricos. Que pena não ter apanhado este show. O que eu pagava para ver asiáticos a dançar o vira! |
O bairro português é um bairro periférico onde vivem cerca de
dois mil descendentes de portugueses, predominantemente católicos e conhecidos
localmente como “Eurasians”. Será que
são parecidos connosco? Será que souberam preservar tradições ancestrais? E que
ligação terão com o Portugal dos nossos dias? A curiosidade era enorrme. Á medida que fazia o trajecto de cerca de 4 quilómetros entre o centro histórico de Malaca e o bairro português, observa a as feições das pessoas em busca de Ti Manéis e Ti Jaquinas. Rostos parecidos com os nossos. Nada.
De repente, as ruas começaram a ter nomes de descobridores portugueses. E aqui e acolá surgiam cartazes a anunciar festas com pessoas vestidas.. .de minhotas! Pois bem, acabava de chegar à Medan Portugis, a Praça Portuguesa. Um espaço ao ar livre, com vários palcos onde, ao sábado à noite, é costume haver música e danças inspiradas no folclore e nas festas tradicionais portuguesas. Mas era segunda...
Olhando em redor, a arquitectura dos edifícios da praça em nada remetia para a traça portuguesa. Mas todos os restaurantes da praça exibiam letreiros a anunciar a gastronomia lusa. Aproximei-me de um deles, o Restaurante Lisboa, e perguntei ao empregado, um homem de tez escura com cerca de 60 anos, se de facto serviam comida portuguesa, identificando a minha nacionalidade. Para meu espanto, o senhor respondeu-me com um “sim”. A partir daí a conversa foi todaem português. Mais à
frente, junto ao mar, descobri uma fileira de 7 ou 8 restaurantes, todos com
esplanada e todos eles, supostamente, de comida
portuguesa. Servirão bacalhau? Migas? Caldeirada? Nada disso. Estes
restaurantes de português só têm mesmo o nome. A comida resume-se a peixe, lulas e
marisco grelhado ou marinado com lima e especiarias. Mas melhor do que a
refeição, é descobrir que a maior parte dos empregados fala português, ainda
que tenham feições asiáticas. “
De repente, as ruas começaram a ter nomes de descobridores portugueses. E aqui e acolá surgiam cartazes a anunciar festas com pessoas vestidas.. .de minhotas! Pois bem, acabava de chegar à Medan Portugis, a Praça Portuguesa. Um espaço ao ar livre, com vários palcos onde, ao sábado à noite, é costume haver música e danças inspiradas no folclore e nas festas tradicionais portuguesas. Mas era segunda...
Olhando em redor, a arquitectura dos edifícios da praça em nada remetia para a traça portuguesa. Mas todos os restaurantes da praça exibiam letreiros a anunciar a gastronomia lusa. Aproximei-me de um deles, o Restaurante Lisboa, e perguntei ao empregado, um homem de tez escura com cerca de 60 anos, se de facto serviam comida portuguesa, identificando a minha nacionalidade. Para meu espanto, o senhor respondeu-me com um “sim”. A partir daí a conversa foi toda
Os restaurantes portugueses ficam junto ao mar e servem comida que de portuguesa não tem nada. Mas alguns empregados falam português, |
E vocês já visitaram Portugal?”, perguntei a alguns dos empregados do restaurante (uma simpatia!) e a outros amigos deles que se foram juntando à nossa volta para falar português com ... portugueses!!! “É muito longe e muito caro. Não conheço, mas gostava muito…”, respondiam com uma pronúncia estranha mas compreensível. Em casa, a família nunca deixou de ensinar a língua, passando-a de geração em geração, o que explica este “milagre” e a existência de apelidos tão familiares. “Senhor Rodrigues, mais um cerveja, por favor!” pedi eu já a terminar uma refeição deliciosa. “E pode trazer a conta, por favor”. Por sinal, uma conta simpática já que por uma pratada de lapas (scallop) divinalmente temperadas com ervas aromáticas e pó de amendoim, um peixe temperado com lima e acompanhado de arroz, legumes salteados e um litro de cerveja Tiger pagámos 20 euros. “Muito obrigada Senhor Rodrigues, foi um prazer”. Mesmo ali ao lado, no Lisbon Hotel (30 euros o quarto duplo com PA), um hotel com vista para o estreito de Malaca, tenho a certeza de que nessa noite adormeci com um sorriso nos lábios.
Tambem gostqriq de visitar MALACA
ResponderEliminarLembranças da historia de MEU PORTUGAL
REI DE PORTUGAL E DOS ALGARVES dAQUEM E DALEM MAR EM AFRICA DE ORMUZ ADEN GOA E MALACA
Caro Carlos, estamos em sintonia. Se pudesse, ia já de seguida conhecer Goa, Timor, Moçambique....
ResponderEliminarGosto da apreciação e do calor humano que contem. Falar da comunidade é falar dos Portugueses de Malaca. Assim são conhecidos e gostam.
ResponderEliminarA Korsang di Melaka tem como objetivo principal promover, divulgar e preservar a cultura da comunidade Lusa que passados mais de 500 anos mostram ao mundo as suas tradições de origem portuguesa.
Aceda para saber mais www.dikorsang.org
Fantástico! Não conhecia a Korsang di Melaka. Para mim, esta visita teve momentos muitos especiais. Poder falar português em Melaka com pessoas tão simpáticas foi um privilégio. Obrigada pela sua mensagem.
EliminarAmei. Vou visitar a página indicada.
ResponderEliminarVou divulgar isto, que deve ser protegido pela UNESCO, como património da humanidade. Com a palavra o Senhor António Guterres, Secretário Geral da ONU.
Um dia destes vou escrever sobre outro destino onde a herança portuguesa ainda é mais visível: Goa. Obrigada pela mensagem.
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