Ueno é um parque público de Tóquio muitas vezes referido na literatura e nas artes japonesas. Não é particularmente bonito, existem jardins mais interessantes na cidade. Mas é muito frequentado pelos habitantes da cidade uma vez que possui várias atracções: o Lago Shinobazu com os seus barcos em forma de cisne, o Santuário Tosho-gu, um pagode budista, várias estátuas e vários museus: Museu Nacional da Ciência, Museu Nacional de Arte Ocidental, Museu de arte Metropolitana de Tóquio e Museu Nacional de Tóquio. Ou seja, dava para passar vários dias a explorar o Parque Ueno.
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Foto retirada de http://housingdreams.wordpress.com/ |
Quem visita o Parque Ueno não pode deixar de reparar nas muitas barracas de lona azul que existem em várias zonas mais abrigadas. O mesmo se passa quando se faz um cruzeiro no rio Sumida, aqui e acolá existem barracas como estas. todas iguais, porque são feitas com plástico oferecido pelo município da cidade. E se passarmos mais perto de alguma e conseguirmos olhar lá para dentro, podemos ver como estão impecavelmente limpas e arrumadas, com os sapatos à entrada e roupa a arejar no exterior. É um cenário que nos deixa pensativos. Ainda assim, para uma cidade com cerca de 35 milhões de pessoas (refiro-me à Grande Tóquio, cidade e arredores), o número de sem-abrigo é relativamente pequeno quando comparado com cidades da América. Existem cerca de cinco mil sem-abrigo na cidade, na sua maioria do sexo masculino. Entre eles contam-se alcoólicos e pessoas com problemas mentais mas, a maioria, são pessoas que perderam o emprego e não conseguiram regressar ao mercado de trabalho. Mas algumas até regressam só que demoram algum tempo a ter condições económicas para alugar casa. enfim, é um assunto delicado sobre o qual o governo Japão não gosta de prestar declarações. Mas o desemprego existe e os seus efeitos são bem visíveis.
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Uma perspectiva de um dos barcos que faz cruzeiros no rio Sumida. |
Os Invernos são muito rigorosos no Japão. Por tal, todos os anos morem vários sem-abrigos. Alguns ainda conseguem arranjar dinheiro para passarem algumas horas em cyber-cafés que, por cerca de 10 a 15 euros, alugam pequenos espaços isolados com computador, sofá e bebidas incluídas por períodos de cinco horas. Outros procuram abrigo em estações de comboio e de metro, mas todas elas fecham entre a meia-noite e a uma da manhã e só voltam a abrir às cinco. Não admira pois que no Inverno aumentem as taxas de suicídio em os sem-abrigos mais desesperados. E escrevo mais desesperados porque alguns admitem que são felizes assim. Mais do que se estivessem a trabalhar, perdendo toda a sua liberdade em função de um emprego onde são "obrigados" a trabalhar cerca de 12 horas por dia... Vale a pena ler
este artigo com depoimentos de alguns sem-abrigo, onde ficamos a saber o tipo de rivalidades que existem entre os sem-abrigo de Ueno e os de Shinjuku ou Asakusa. Parece que, mesmo nas ruas, a tal liberdade não é igual para todos.
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