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Roça Bela Vista
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Enquanto estive em São Tomé, fiz 3 passeios de dia inteiro com guia. No primeiro dia fui para norte e noroeste da cidade de São Tomé. No segundo dia fiz uma caminhada de várias horas no Parque Ôbo e no terceiro fui para sul. No primeiro dia, a Roça da Bela Vista foi o primeiro local de paragem. Foi também a primeira roça de cacau que visitei. Ainda funciona, embora esteja já a meio gás. Deu para perceber que as roças eram muito mais que unidades de secagem de sementes de cacau. Eram autênticas mini-cidades com escolas para os filhos dos trabalhadores, hospital, serviços administrativos, cantinas, sanzalas (casas para os trabalhadores) e grandes casarões onde viviam os chefes de capitanias.Algumas roças ainda estão a funcionar, dedicando-se à produção de cacau, café, grogue, flores, frutos e especiarias, outras foram adaptadas a hotéis de charme, outras estão em via de o vir a ser e outras estão em ruínas... Vi umas quantas que mesmo a cair aos pedaços deixavam entrever como foram bonitas e majestosas noutros tempos. Dá vontade de ficar com elas todas e fazer-lhes um "Extreme Make Over". Mas são quase todas pertença do Estado, salvo raras excepções. E consta que existem já "n" projectos para as salvar. Até lá, continuam a escavacar-se....
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O terreiro para secagem das sementes
de cacau da Roça Bela Vista |
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As estufas que vieram substituir os terreiros de secagem |
Depois de visitar esta roça, seguimos mais para norte, passando por vários rios, ribeiras e riachos onde se viam, quase sempre, mulheres a lavar roupa. Não admira que a ilha seja estupidamente verde, existe água por todos os lados!
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Cruzei-me infinitas vezes com árvores carregadas de jacas
e fruta pão. Ao final do dia, anda imensa gente à beira da estrada
de catana na mão e jacas na cabeça |
A segunda roça que fui visitar foi a mais espectacular de todas. E ainda vi umas quantas. É conhecida por
Roça Agostinho Neto, embora também lhe chamem Antiga Rio d'Ouro. Fui fundada em 1865 por Gabriel Bustamante e é talvez a maior e mais bem conservada de todas. A partir de 1877, foi explorada pelo Marquês de Vale Flor que em 1882 compra também a Roça Boa Vista. A Roça fica apenas a 10 km da capital de São Tomé, no distrito de Lobata e perto da cidade de Guadalupe. Foi construída num declive e contém hospital, maternidade, igrejas, centros de convívio, armazéns, garagens, centro de pesquisa de doenças infecto-contagiosas (morria imensa gente com malária...), escritório, bancos, serralharia, central eléctrica, jardim botânico e inúmeras sanzalas, claro, edificadas em socalcos. É grandiosa e depois deu para imaginar como seria no seu auge, quando aqui trabalhavam cerca de três mil pessoas.
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A avenida principal vai dar ao edifício do Hospital |
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As meninas a posarem para a foto. Ao contrário dos adultos,
as crianças adoram ser fotografadas. "Mostra! Mostra!Mostra!" |
O café foi introduzido na ilha de São Tomé em 1800 e o cacau em 1822. Mas de início o cacau era considerado uma planta ornamental. Só em 1851 é passou a ser cultivado para consumo. As plantações eram trabalhadas por escravos. Os primeiros escravos vieram para a ilha no séc. XVI para trabalhar nas plantações de cana de açúcar e vieram de angola, Cabo Verde e Congo, motivo pelo qual existem pessoas mais claras e de cabelo ruivo, mais escuras e de cabelo louro, enfim, uma misturada engraçada que acabou por influenciar os hábitos alimentares e culturais.
Em 1869 a escravatura foi oficialmente abolida. Mas na prática continuou a existir, embora com outro nome. Os escravos passaram a ser designados por "contratados". Os trabalhos forçados continuam a ser uma realidade até se darem várias revoltas e greves contra o colonialismo. Em 1953 houve uma revolta que ficou célebre por motivos tristes... Uma chacina, ordenada pelo coronel Carlos Sousa Gorgulho, que provocou mais de mil mortes. Ficou para a História como o
massacre de Batepá e tive a oportunidade de visitar o local no terceiro passeio que fiz. Parece que a palavra "Batepá" bem de "Bate pá!". Está tudo dito...
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Uma igreja para nós, uma escarpa apetecível
para as cabras dos arredores. |
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A degradação do edifício principal é bem visível.... mete dó. |
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As sanzalas da Roça Agostinho Neto |
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Garagens e oficinas |
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A Lagoa Azul vista da estrada |
Depois de visitar esta Roça, fomos em direcção à Lagoa Azul onde nos aguardava uma água turquesa e cristalina, perfeita para fazer snorkeling. No caminho, enquanto comentámos a quantidade de locais por esse mundo fora que recorrem a este nome - "Lagoa Azul", passámos por uma zona onde a paisagem mudou por completo. O guia disse-nos que estávamos numa savana porque ali poucas árvores conseguiam vingar. Deu para ver ários imbondeiros, nunca tinha estas árvores ao vivo e a cores e senti-me mesmo...em África! Depois parámos em Guadalupe num Restaurante à beira da estrada - o Restaurante Celvas - para beber alguma coisa fresca. Não almoçámos aqui porque quisemos ir a Neves ao célebre "santola", mas depois, mais tarde, ouvimos dizer que as refeições do Celvas valem bem os 15 euros por pessoa. Mas já estávamos de ideia fixas no Neves e não nos arrependemos nadinha de lá ter ido!
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O jardim do restaurante "Celvas" tinha imensas rosas-porcelana
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A Lagoa Azul mereceu bem a paragem e teve o especial sabor de ser o nosso primeiro banho de mar em São Tomé. Se lá forem, é conveniente entrar com sandálias na água porque não existe areia, apenas pedras. Ou seja, não é propriamente o melhor local para ficar a apanhar banhos de sol. Para isso, mais vale ir paras praias vizinhas. e neste aspecto, a Praia dos Tamarindos e a das Conchas são as mais elogiadas. Mas voltando à Lagoa Azul, a entrada pode ser agreste mas depois de entra na água, suficientemente morna para nãos ficarmos com frio mas suficientemente fria para refrescar, garanto-vos, o tempo passa a voar... Há imensos peixinhos de várias cores, tamanhos e feitios e até raias. A água não é muito profunda e a visibilidade é excelente! Se tivesse levado uma máquina fotográfica à prova de água, tinha tirada altas fotos. Ainda pensei em dar um pulo à FNAC mais próxima...
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